A FRUTA DA MODA

O uso de novas tecnologias no cultivo, a dieta para emagrecimento adotada no Japão e nos EUA e conjunturas de mercado explodem a demanda mundial, favorecendo os produtores brasileiros

Reza um ditado popular que a banana ingerida pela manhã é ouro, de tarde é prata e de noite mata. Cultivada há 8 mil anos, em 130 países, a fruta, que há séculos faz parte da alimentação diária de cerca de 400 milhões de pessoas, caiu no gosto de uma nova legião de adeptos: os japoneses.

Tudo começou quando Sumiko Watanabe, uma farmacêutica de Osaka, concebeu uma dieta baseada nos preceitos do ditado popular para ajudar a acelerar o metabolismo do marido Hitoshi Watanabe, que estava acima do peso. Hitoshi perdeu 37 quilos e popularizou a banana no mercado japonês. Conhecida como "morning banana diet", a receita virou febre no Japão e emigrou para os Estados Unidos, onde ganhou centenas de seguidores, principalmente em Nova York. Sua fórmula é simples. A pessoa deve comer de uma a quatro bananas no café da manhã e tomar uma xícara de água morna como acompanhamento. Mais nada. No almoço, a alimentação é livre (o que se come habitualmente, sem excessos, é claro). Um leve lanche deve ser preparado às 15 horas. O jantar, corriqueiro, deve ser servido antes das 20 horas e é muito importante que a pessoa vá para cama antes da meia-noite. A água é a única bebida permitida durante as refeições. As sobremesas são proibidas. Graças à receita de Sumiko, a banana - oito séculos depois de ter seu cultivo iniciado na Ásia - virou um hit internacional.

O sucesso da dieta foi tamanho que em algumas regiões houve desequilíbrio entre a oferta e a demanda no ano passado. No último verão japonês, as vendas de banana - produto em geral pouco comercializado nessa época - cresceram 80% naquele mercado, em comparação com igual período do ano anterior. A procura impulsionou, inclusive, a Dole do Japão a aumentar suas importações de bananas em 25%, e ainda assim o mercado continuou desabastecido. Em 2007 as importações japonesas somaram 970 mil toneladas, provenientes de Taiwan e das Filipinas. Estimativas mostram que no ano passado esse volume teria crescido 70%. É a primeira vez em quarenta anos que o país registra um crescimento tão acentuado no consumo. Como consequência, os preços da fruta subiram 20% no mercado local.

Depois de emagrecer 37 quilos, Hitoshi Watanabe escreveu o livro Morning banana diet, publicado em março de 2008, com mais de 800 mil exemplares vendidos e traduções publicadas na Coreia do Sul e em Taiwan. A dieta, que chegou aos Estados Unidos no segundo semestre do ano passado, aportou no Brasil no início deste ano. Nutricionistas, no entanto, contestam o regime. "Não há nada mágico sobre bananas", disse Bonnie Taub-Dix, nutricionista e porta-voz nacional da American Dietetic Association, para o jornal Daily News, de Nova York. "Poder comer o que quiser no almoço e no jantar, como propõe a dieta, não é algo bem-definido ou que tenha alguma base científica" complementa. Para a nutricionista, as dietas que permitem comer de tudo, complicam a vida de pessoas propensas a excessos. Os poderes nutricionais da banana, no entanto, são inegáveis. Conhecida como um dos mais completos alimentos, a fruta constitui uma inesgotável fonte de hidratos de carbono, potássio, sódio, fósforo, cloro, magnésio, enxofre, silício, cálcio, vitaminas A, B1, B2 e C. "A banana é uma excelente fonte de energia, mas não recomendo seu uso como medicamento", diz Milana Dan, nutricionista que está concluindo sua tese de doutorado em ciências dos alimentos, em que aponta os benefícios da farinha de banana verde. Trata-se de um trabalho que vem sendo realizado no laboratório de Química, Bioquímica e Biologia Molecular da Faculdade de Ciências da USP - Universidade de São Paulo há quatro anos e que comprova os efeitos da farinha de banana verde no controle glicêmico, no funcionamento intestinal e na saciedade. "Devido à alta quantidade de amido resistente que a banana verde possui, sua farinha pode ajudar no controle do açúcar no sangue", diz Milana, que deve concluir o projeto ainda este ano. O amido resistente age como fibra no organismo. Por esse motivo, a farinha também pode ser adicionada a muitos alimentos a fim de facilitar o funcionamento do intestino. A farinha é feita com banana verde porque nesse estágio é maior o grau de amido resistente que a fruta contém. "Conforme ela vai amadurecendo, a graduação de amido resistente diminui, pois ele começa a ser transformar em açúcar. Uma fruta madura não contém amido resistente", diz Milana.

As bananas usadas pela pesquisadora são colhidas no primeiro estágio de maturação ( excessivamente verdes), na região do Vale do Ribeira, principal polo produtor do país. Os bananicultores brasileiros, apesar de não sentirem diretamente os reflexos da dieta em seus negócios, permanecem atentos ao potencial de crescimento deste mercado. Segundo maior produtor mundial de bananas, o país se destaca como o mais importante consumidor da fruta, uma vez que os cerca de 6,7 milhões de toneladas produzidos anualmente são destinados em sua grande maioria ao mercado interno.

No município paulista de Registro, situado no Vale do Ribeira, os bananicultores realizaram uma verdadeira revolução no que diz respeito ao plantio, colheita e comercialização. "Evoluímos muito na última década. O manejo da plantação melhorou, o combate às doenças se tornou mais eficaz e o pós-colheita é mais moderno", avalia Agnaldo José de Oliveira, engenheiro agrônomo da CATI - Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo.

José de Paula Teixeira, produtor há 41 anos, participou intensamente dessa revolução. "No início, a banana, depois de colhida, era colocada no chão em pilhas. Hoje, temos o cabo de aço aéreo, que transporta a fruta da lavoura até o barracão com o máximo de cuidado, sem que um cacho encoste em outro para que as frutas não se machuquem", conta Teixeira.

Não parece, mas a banana é uma fruta muito sensível, assim como a bananeira, uma planta extremamente vulnerável às chuvas e ao vento. Trata-se de uma plantação que requer cuidados constantes. Os cachos de bananas nascem na parte superior de caules chamados pseudocaules. Após o nascimento, esses cachos levam cerca de 10 meses para ser colhidos. Depois da colheita, esse pseudocaule é cortado, dando origem, posteriormente, a um novo caule. O tempo de vida útil de uma bananeira é, em média, de 15 anos, mas existem plantas com até 40 anos que ainda são produtivas. As condições ideais para o cultivo da fruta são calor e umidade. "Cada planta necessita de 8 litros de água por dia e um quilo de adubo por ano para estar bem nutrida", diz Oliveira. Depois que os frutos estão formados, os produtores cobrem os cachos com sacos plásticos para evitar que a fruta sofra com adversidades climáticas ou ataques de pássaros. No caso da banana-prata são cutivados entre 1.200 e 1.300 pés por hectare.

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